Evento 2

Adoro andar de Metro, momentos mágicos, multidão, confusão, gente normal, gente estranha, Metro de Lisboa, Porto ou Londres, Metro de vida… Mas de um momento para o outro o Metro perdeu beleza, passou a ser sofrimento, porquê? Não sabia! O que mudou? Procuro justificação, fico mais atento e encontro a origem do problema! Cada vez que entro no Metro está lá ou chega pouco depois sempre alguém da mesma forma, a mesma reacção, o mesmo registo, rosto molhado, olhos vermelhos, incrível chegar á conclusão que cada vez que entro no Metro, sempre, mas sempre, me ocorre um evento destes! Sobrenatural… mas o meu sofrimento em andar de Metro não é só por ver alguém a chorar, é por olhar os rostos das pessoas á nossa volta… uns riam-se abanando a cabeça como que pensando… “Olha para esta parva a dar espectáculo!”, outros ainda pior… davam indiferença! Não suporto estas situações por isso procurei soluções e utilizei a mais fácil… Deixar de andar de Metro! No entanto percebendo agora a origem do problema decidi tomar uma atitude, passei a levar um pacote de lenços para o Metro, quando não os tinha ou os esquecia comprava antes de entrar, passou a ser rotina e a minha companhia no Metro, então com o pacote de lenços lá ocorre sobrenatural evento… lá estava! Nunca precisei de procurar ou mudar de carruagem, ou já lá está ou depois de me sentar lá aparece menina, senhora ou idosa de rosto fechado, molhado, triste… aguardo um minuto, olho as pessoas á minha volta… sorrisos e indiferença reina na carruagem… levanto-me, sento-me ao lado, tiro o pacote de lenços, estendo na direcção e amargurada pessoa e pergunto se posso ajudar. É 50/50, metade diz para me meter na minha vida, deixar em paz, vai chatear o preto, etc… a outra metade acena a cabeça ou diz que sim baixinho, quando assim é, sempre surge um abraço que nunca soube se sou eu que o dou ou ela oferece, no final sempre um sem número de obrigados e um adeus, nunca soube o motivo do choro, nomes, nada destas pessoas, nem nunca mais vi nenhuma delas mas uma coisa eu sei… Ajudo, faço mais que ninguém faz, sou a rosa enquanto os outros são espinhos e assim, claramente, sou feliz!